sexta-feira, 25 de novembro de 2016

[ heroína ]


minha cola

minha coca,
a pipa
a polícia
os muleque
neguinha- 
chamada mutala
chuta lata
pica esconde,
monta o bonde
na favela.
olha ela,
o nome dela é tal e qual,
bruta flor
do querer de quem?
amável do amor de quem?
não tem medo de ser levada à mal,
tatuou no peito
preconceito racial
sentada na viela
a heroína
marginal,
heroicamente viva
sobrevivente 
da puta democra... 
instaurada pelos
homens de ferro, que fazem da
cabeça de preta
prêmio.
pé de preto é cinzento
de correr no asfalto e
pra fugir.
ainda mais se você trans... gredir.
nascer preto
é agredir
o *belo padrão social*
e as artes
vomitadas pelos
artistas urubus,
vomitando em pratos de cristais,
considerados, 
onde o preto é pintado selvagem
e os brancos 
estão no topo da cadeia,
onde o preto apodrece acorrentado.
eu avisei,
a heroína tá descendo do morro,
e
todo preto tem dentro de si
um monte de bomba...
eu quero é ver quando tudo isso aqui explodir.

domingo, 25 de setembro de 2016

caminhos, corpos e etc

it’s a long way 
o poema depois que 
o poema invade
o poema a sua veia
o poema percorre seus glóbulos coloridos glóbulos
o poema gosta de cor
o poema toma forma de gente
o poema dentro das pequenas estruturas do seu eu criança
[quieta-medrosa
o poema cheira tua pele o poema esbraveja calor o poema morde tua língua
o poema secou a fonte da dor o poema nasceu o poema reproduziu o poema
multiplicou o poema detesta o poema ser esquecido o poema morreu de tédio ouvindo as buzinas o poema da sacada o poema da casa 37 o poema bicicleta o poema peito o poema teto o poema espelho o poema momento o poema teste o poema jeito o poema cd o poema moto luto mala duro o poema beleza sujeito parente o poema equidistante reluzente imprudente monstruoso o poema não o poema pé o poema zé o poema no way o poema do corpo
setembro fez da palavra amor um silêncio
nossos peitos acumularam barulhos
nossos olhos, correntezas
fôlego,
destroços afetivos jogados no chão da primavera
fôlego,
não há beleza em recife como pensei ter visto,
nem em lugar nenhum agora há
apesar de setembro
continuaremos aguardando um milagre
que nos livre dessa órbita desatenta , agressiva e desajeitada
que pisa em tudo que é belo.
dizem os otimistas nus e cansados , que
tudo se fará novo a partir do que sobrou

domingo, 18 de setembro de 2016

no ano em que fui ao cerrado
tive frio e sede,
febre
morri de saudade,
a
poeira da estrada
embaçou meus olhos rasos d'agua
fez-se lama
sem chover.
não vai molhar nem tão cedo
na beira do lago Paranoá,
voei feito pipa,
vi menino pular
desci abismos para tocar na cor azul,
escalei parede d'água
morri sufocada
melei os pés,
não quis voltar,
quase me perdi da hora
no Guará
a vida, um pequeno prejuízo nômade
eu trouxe comigo o que não ficou lá
são quase 3 da tarde
o tempo tem passado rápido
nessa cidade,
os sinais vermelhos
a ponte
letreiros,
marquises
a antiga estação de trem
os trilhos enferrujados
o cais,
o porto, o parto , a partida
Recife é um lugar ridículo,
lembrei do tempo que a correr por trás do São Luiz
a cidade parecia um labirinto
dentro do meu sonho
do tempo que subia no tronco das árvores
que beijava na boca de olhos fechados
cerrava os dentes para não entregar a cidade,
e ainda confundia os movimentos de translação e rotação
da pequena menina terra
engravidei de passarinhos
hoje , a desventura sufocou meu buxo.
cerveja é milho
e eu me rendo
na rua da guia
da hora,
da rua que eu não sei nome,
mas sei chegar,
só pra
não perder a graça de conhecer gente
ainda sinto saudade
do meu walkman
e das cores da tarde 
quando elas não se misturavam aos meus problemas
saudade de usar o vinil como volante
e dormir com os pés sujos da rua
vou pintar meu quarto
com as cores do céu
e assim me sentir
mais perto das coisas
indizíveis
coisas essas que
usamos palavras
desconhecidas
para tentar conceituar
saudade de não precisar dos conceitos
você assiste aulas sobre poesia
na sala ao lado pessoas fazem barulho,
a saudade da infância dialoga comigo
queria tomar um trem e partir
queria me repartir em mil,
saudade de ser eu no tempo da paz pálida
ouvindo o canto do curió
na manhã que você se
f o i
f u i à praia.
eu fui...
parecia que
você não tinha
deixado nada...
porque aqui,
nada tinha.
sentada na pedra
a água batia
ia e vinha
e eu sozinha
enterrava a cabeça na areia
e o coração arranhava corais
graças a deus,
na manhã que você se foi
te deixei
e fui à praia
[ baseado nos romances alheios que ouço ]
agosto.
ventava muito
eu ainda sofria com a frieza de julho que você trazia.
nas férias, eu ia, eu ia...
e
não fomos
te liguei numa manhã de domingo 13 vezes
mandei 37 mensagens
quando você ligou
e eu perguntei "tem certeza?"
o vento bateu a porta
você disse com firmeza:
"tenho."
e eu perguntei : " tem certeza?"
você disse com firmeza:
"tenho."
e eu perguntei : " tem certeza?"
você disse com firmeza:
"tenho."
e eu perguntei : " tem certeza?"
agosto bateu a porta
um desgosto bateu no peito
você bateu na minha cara
bateu a lombra,
bati o carro.
ao contrário do que diz o poeta,
é possível ser feliz sozinho,
mas hoje olhando ela, a Menina-Cidade-Velha,
pensei que se a gente não amasse nessa cidade
quase nada valeria:
porque Recife é um cenário de amor absurdo
com palco , platéia e tudo...
se a gente não amasse aqui, quase nada valeria:
a cor de recife no fim de tarde
ouvir cordel embalando a rede
dividir o pedaçinho rapadura,
comer café com bolo de rolo
beijar no Marco Zero
na quarta-feira de cinzas
molhar os pés na praia do Pina
tirar foto na rua da Aurora
caminhar pela ponte abraçadx
domingo de amor no cinema
~ o São Luiz é um romance ~..
eu devo a Recife essa mania desajeitada
de escrever breguice
de olhar no olho da rua, de ouvir música de amor

sexta-feira, 24 de junho de 2016

[ dos dias ]

Para os sábados
cheiro de alecrim na comida,
na- mo- rar
água potável,
som alto:
Acabou Chorore.
um conto de Carpinejar

Meu abraço mais largo para menina do riso rasgado.

Casa com aroma de eucalipto.
Azulejos azuis.
Pro teto, chuva,
pro beijo, tesão.
Noticias da Síria,
uma música tocada no violão.
Peito carregado
de saudade acolhedora.
Janelas do quarto abertas,
ventos de sábado.
tiro o morfo da tarde.

[ autobiográfico ]

Outubro
SP sem amor.
Preto e branco,
frio.
Cabelo esvoaçado.
Janela de ônibus quebrada,
greve de guerra
sangue nos olhos,
veia quente
trem desgovernado
Transa com o mar

vomita poesia
ex menina
um barco branco
ermo
cerveja gelada
canto de afoxé
uma mentira que a vida contou
amante de ilusões
peixe
papel em chamas
defensora
medrosa
narcisista eclética
não sou o que você vê.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

[ despontar ]

  
  do que pode nascer ou nascerá da palavra: a efemeridade da luz,
 a pausa do compasso o atraso do relógio  
página rasgada traço de giz, a palavra é a rapidez da ponta,
 que quando bem tragada, bate.  
  
a palavra cresce e também  in – fla – ma  
  
e a palavra  que eu como não morre.  

[ de andada por Recife ]

meus olhos vendo lírios brotar no asfalto,

meu canivete rasgou uma nuvem insalubre sob o Palácio da Justiça,

banhistas azuis saindo de dentro do Capibaribe

 e carros que voam com suas asas em movimentos perpendiculares,

ouço todos os rinocerontes na Rua das Ninfas

molho os pés no rio cor de vinho da calçada

sento à margem da Aurora, sou um caranguejo.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

[ amarelo-cor-de-manga ]

Amarelo manga.
Manga amarela,
amar ela.
amo ela.
Amarelo ,
Amar é um elo.
Manga.
Cheiro,
Amar é ló.
Amarelar.
A maré só.
Amar é Sol,
Amarelos.

[ " tudo legal " ]

" Corro, choro, converso e tudo mais
Jogo num verso ... "



A brisa que entra pela janela ,
rasga meu peito feito navalha,
em soluços, e essas mãos geladas.
Sim, os meus cabelos estão caindo,
emagreço quilos de distância.
e sem perceber estou amarrada
a rude cordas da insanidade.
Vou me acorrentar a tua guitarra.
Vê, acende em mim o teu cigarro,
um solo blues, varanda de casa.

Dance comigo, e fale do vento,
Pra quê esconder mais nossas dores?
" Tudo legal", amanhã é domingo.
Pra ir embora, e "voltar quando der".
Meus olhos tão vermelhos da noite,
são provas de que fico calado,
reconheço: não aprendi a sofrer.

[ notas sobre uma transa de quarta-feira ]

bebi o fel dos olhos dela

mordi meus lábios

Tive sensação de estar entregue , que culminou num riso desconcertado.

Desenhei arrecifes ao redor da sua cintura

Amarrei os seus cabelos no meu pulso, para não deixá-la sair.

E entramos em nós, uma invasão consentida e abençoada pelos deuses.

Nossos corpos ficaram ao avesso:
Sangue, pele , vísceras,
nervos, veias, osso,
saliva.

[ atroz ]


Cresce 
a ponto de explodir,
e vai arrebentar
diante dos nossos olhos
a qualquer momento
Se você confundir
vou tentar explicar,
abrir a janela,
o vento de agosto vai bagunçar teus cabelos,
e soprar meu nome na tua nuca.
Graças a deus, você veio,
meu peito já era só o pó,
te faço um café
senta aí no sofá
a manta é de lã,
está limpa.
Senta que te conto sem métrica
poemas dramáticos 
pra esquecer a mágoa.

Você partiu
e acabou a frase.
aceitei um convite pra beber no 
sábado, Rua da Lama.
Fui de táxi.
Tomei um porre, esqueci a chave
perdi o ônibus, o calendário,
voltei desarmada e andando.
Criei uma úlcera, ganhei calos.
Andei pela Aurora
atrapalhando o tráfego,
perdendo o fôlego,
sentei num bar,
na esquina da Saudade, ali , sabe?
Olhando tua foto pensei:
talvez eu não
deva entrar em pânico,
fazer do coração cínico
e tomar um antídoto 
em dose única.
Que idéia mágica!


Não... Que trágico.
Você volta aqui!
Eu atrás,
você atroz,
maquiagem de atriz,
linda como uma cidade iluminada,
poderosa como um míssil
dócil como uma benção.
Preparei tudo,
e ensaiei prólogos,
mas tua presença de lâmina
me

o r t a 
o discurso.

 Eu disse
que “isso” de saber
antes de você dizer,
e aquela coisa
de
morar
no seu olhar
não ia prestar.
Mas, já que veio, fala...
fala alguma coisa e não cala,
que todo silêncio mata mais do que bala.
Me fala de ti,
que já conheço essa história,
você começa falando em ir embora.
Mas ó, calma...
tira os sapatos, 
o cigarro ainda tá aceso, 
ainda não te dei um beijo.
Dá tempo de rir antes de abraçar?


Toda vez
que você vai, eu parto.
Se não volta, ardo.
Queria te falar de amor
com talento, 
eu tento,
mas sou prolixa...
meu léxico é fraco,
quem fala por mim é o fluxo
e eu só deixo fluir.
É muito louco,
eu sei, te entendo. 
Mas
entende também,
que sou
refém da vida
que te leva de mim.
Será que agora você pode ir?
Devo fechar os olhos ?
Você escolhe a direção,
eu tomo a oposta.
Te protegendo de nós
mantendo
nossa integridade
em tom monocromático,
sem função sintática,
fora da lógica
numa sílaba isolada:
só.

[ av.norte/ macaxeira ]

segunda-feira, 10:09am

subiu dois paradas depois de mim, 

sentou na minha frente, 
olhei fixamente sua nuca vários segundos,
ela não olhou para trás.
mas o reflexo do vidro denunciou, 

nossos olhares se cruzaram no abstrato, 
ela desviou para janela esquerda, eu para a direita.
Passaram três minutos, me fiz várias perguntas:

"Para onde ela vai? De onde é? Está indo ou voltando? Qual será o nome dela? 
Tem cara de Fernanda, ou seria de Taís. 
Vou procurar nas redes... Não, não vou."
De novo, 

nos olhamos no reflexo do vidro, esqueci a parada.
Ah, lembrei... 
Foi recíproco, namoramos, fizemos amigos, adotamos um cachorro, um gato, e nos formamos em filosofia seis anos depois, mas eu precisava descer, 
o meu caminho ao dela não conduzia.
perdi a parada. Gritei : " vai descer , motô. " 

ela olhou pra trás, e gritou não com os olhos, mas o letreiro
' parada solicitada ' e o sinal já estavam vermelhos. 

desci, ela seguiu, sobrevivi. 

as paixões do transporte coletivo urbano são definitivamente as melhores.

[ sal da carne é saudade ]

saudade é de tudo que não veio ainda.

saudade não é da pessoa amada,saudade é de ser amada

de ser amor, e só ser

saudade não é da lembrança,saudade é essa esperança finaempurrando a vida pro futuro.


saudade é da música de Cabo Verdeda varanda e do chá.


saudade das bocas que não beijei.saudade é contínua, é motriz,é gerar motivo

é coisa da carne da gente,é agendar o dia, suspirar em alíviopara querer amanhã.

[ 2016 de abril ]

eu disse a saúde e a saudade
um brinde a nós.
Recife ria da minha cara
o copo já não aguentava mais confissões
os cacos já se espalharam em vão
e tua mão não tava aqui para apanhar
... é preciso não esperar muito...
melancolia número 1
vou plantar um pé
na rua da tua casa ...
um pé de recados sem voz,
pra vê se cê ouve o que não digo!
você é tão ...
você é tão....!
quantos recados eu deixei na caixa!
cê não me lê.
cê não me vê
jogada no chão da sala
enquanto cruza as pernas e toma café .
cê não me abril
eu não te junho,
cê não me outubra
eu não carnaval, nem nada.
teu milindroso sorriso cínico de
mulher pássaro
voando por cima da minha cabeça,
e eu ninho.
em pedacinho
refazendo os caminhos
com agulhas de crochê
custurando o peito
pondo adoçante nos dias:
três gotas.
e comendo as horas com a mão
saúde é coisa de se preservar
saudade é coisa de esquecer
e eu não vou lembrar de você,
e eu não vou lembrar
e eu não vou...
" não espere por alguém
ou por algo que não te dê saúde "

[ av caxangá parte um janela do ônibus ]

a vida é um ritual
acordar nem sempre é sorte,
mas chegar em casa é sempre zombar da morte,
é perigoso andar a pé,
é perigoso andar.
toma café depois só pra acreditar.
a vida taí para você ganhar,
e a cada início
que reiniciam os ciclos,
você não sabe por onde começar.
flertar com perigo,
soprar o veneno
pular muro
driblar as ameças, vai...
guardar as pontas
pra juntar com outras pontas
e uuum...
andar em bando,
articulação é mais que tática
coisa prática,
juntar quem cola na mesma fita, na balança a divergência política,
aqui não se soma ponto a cada obra,
o que você faz,
só mostra o quanto você se importa
e vamos lá
regando sonho com dor
pra depois colher as sobras.
fermentando luta com amor,
ateando fogo em ninho de cobra.
atar os nós
preparar a voz para gritar
punho para cima
aponta pro norte
viver espremido é um corre
mas a extensão do corpo é lutar...
asfalto
poeira
e a cara pintada!
mas não de cara.
contar de um até três,
e alinhar ,
o segredo da força é blocar.
um cálculo lógico pra ajudar
e
amplitude...
num mesmo plano
coragem e atitude
uma dinâmica ótica
para ver além
dessa cena caótica
por cima da fumaça
vem a passarada
vejo
punhos incontáveis
gritos sem ordem:
somos milhares,
eles não sabem contar.
enquanto a passarada canta,
faz a passarela balançar.
o morro inteiro, com a mão no gatilho, os maconheiros,
os ativistas, a negada, e as feministas
cuspindo na paz pálida
vendida em nome da fé.
quem não tinha visto nada
agora sabe como é,
voltemos ao mangue,
na linha de frente não se pode ter medo nem de lama, nem de sangue, né
tamo em pé
não pega a rua à direita,
fica na espreita
ah, eu quero ver pra que lado ,
você vai correr
no dia que o canal alargar
e quando a maré encher.

[ dialético ]


jogo de xadrez num tabuleiro
semi-novo,
e eu nem me movo,
quando sinto águas correrem em
baixo dos meus pés,
e um abelhas fazendo mel dentro do
meu intestino,
quando a singeleza de um abraço
micro,
se faz macro
atravessar Saturno e descer
descalço na palma da tua mão,
não liga não.
quando a morte já não é longe.
Se diz que morrer é assim,
de mãos dadas enquanto chove é
perto,
muito perto de renascer.
me aquieto , então.
somos dois ponteiros de um momento,
eu tento, é lento.
que olho desatento, esse meu!
a arte de um desejo consentido,
mil sentidos espalhados,
sem sentido,
de um elo partido.
e depois unir
agora sim te pari, amor
e em amor
vi o mar,
sem trampolim pra saltar,
arrecifes ao redor da tua cintura,
jura, que tem a cura pra essa
loucura?
então, me segura que eu vou pular.

[ poesia leviana ]


a poesia não respeita nada
ignora garfo e faca
e come teu juízo com a mão

é nômade
e anda descalça desprezando a eloquência,
morde a língua
e se lambuza .

a poesia faz barulho na sala
e cala diplomas falantes,
a poesia é delinquente