domingo, 25 de setembro de 2016

caminhos, corpos e etc

it’s a long way 
o poema depois que 
o poema invade
o poema a sua veia
o poema percorre seus glóbulos coloridos glóbulos
o poema gosta de cor
o poema toma forma de gente
o poema dentro das pequenas estruturas do seu eu criança
[quieta-medrosa
o poema cheira tua pele o poema esbraveja calor o poema morde tua língua
o poema secou a fonte da dor o poema nasceu o poema reproduziu o poema
multiplicou o poema detesta o poema ser esquecido o poema morreu de tédio ouvindo as buzinas o poema da sacada o poema da casa 37 o poema bicicleta o poema peito o poema teto o poema espelho o poema momento o poema teste o poema jeito o poema cd o poema moto luto mala duro o poema beleza sujeito parente o poema equidistante reluzente imprudente monstruoso o poema não o poema pé o poema zé o poema no way o poema do corpo
setembro fez da palavra amor um silêncio
nossos peitos acumularam barulhos
nossos olhos, correntezas
fôlego,
destroços afetivos jogados no chão da primavera
fôlego,
não há beleza em recife como pensei ter visto,
nem em lugar nenhum agora há
apesar de setembro
continuaremos aguardando um milagre
que nos livre dessa órbita desatenta , agressiva e desajeitada
que pisa em tudo que é belo.
dizem os otimistas nus e cansados , que
tudo se fará novo a partir do que sobrou

domingo, 18 de setembro de 2016

no ano em que fui ao cerrado
tive frio e sede,
febre
morri de saudade,
a
poeira da estrada
embaçou meus olhos rasos d'agua
fez-se lama
sem chover.
não vai molhar nem tão cedo
na beira do lago Paranoá,
voei feito pipa,
vi menino pular
desci abismos para tocar na cor azul,
escalei parede d'água
morri sufocada
melei os pés,
não quis voltar,
quase me perdi da hora
no Guará
a vida, um pequeno prejuízo nômade
eu trouxe comigo o que não ficou lá
são quase 3 da tarde
o tempo tem passado rápido
nessa cidade,
os sinais vermelhos
a ponte
letreiros,
marquises
a antiga estação de trem
os trilhos enferrujados
o cais,
o porto, o parto , a partida
Recife é um lugar ridículo,
lembrei do tempo que a correr por trás do São Luiz
a cidade parecia um labirinto
dentro do meu sonho
do tempo que subia no tronco das árvores
que beijava na boca de olhos fechados
cerrava os dentes para não entregar a cidade,
e ainda confundia os movimentos de translação e rotação
da pequena menina terra
engravidei de passarinhos
hoje , a desventura sufocou meu buxo.
cerveja é milho
e eu me rendo
na rua da guia
da hora,
da rua que eu não sei nome,
mas sei chegar,
só pra
não perder a graça de conhecer gente
ainda sinto saudade
do meu walkman
e das cores da tarde 
quando elas não se misturavam aos meus problemas
saudade de usar o vinil como volante
e dormir com os pés sujos da rua
vou pintar meu quarto
com as cores do céu
e assim me sentir
mais perto das coisas
indizíveis
coisas essas que
usamos palavras
desconhecidas
para tentar conceituar
saudade de não precisar dos conceitos
você assiste aulas sobre poesia
na sala ao lado pessoas fazem barulho,
a saudade da infância dialoga comigo
queria tomar um trem e partir
queria me repartir em mil,
saudade de ser eu no tempo da paz pálida
ouvindo o canto do curió
na manhã que você se
f o i
f u i à praia.
eu fui...
parecia que
você não tinha
deixado nada...
porque aqui,
nada tinha.
sentada na pedra
a água batia
ia e vinha
e eu sozinha
enterrava a cabeça na areia
e o coração arranhava corais
graças a deus,
na manhã que você se foi
te deixei
e fui à praia
[ baseado nos romances alheios que ouço ]
agosto.
ventava muito
eu ainda sofria com a frieza de julho que você trazia.
nas férias, eu ia, eu ia...
e
não fomos
te liguei numa manhã de domingo 13 vezes
mandei 37 mensagens
quando você ligou
e eu perguntei "tem certeza?"
o vento bateu a porta
você disse com firmeza:
"tenho."
e eu perguntei : " tem certeza?"
você disse com firmeza:
"tenho."
e eu perguntei : " tem certeza?"
você disse com firmeza:
"tenho."
e eu perguntei : " tem certeza?"
agosto bateu a porta
um desgosto bateu no peito
você bateu na minha cara
bateu a lombra,
bati o carro.
ao contrário do que diz o poeta,
é possível ser feliz sozinho,
mas hoje olhando ela, a Menina-Cidade-Velha,
pensei que se a gente não amasse nessa cidade
quase nada valeria:
porque Recife é um cenário de amor absurdo
com palco , platéia e tudo...
se a gente não amasse aqui, quase nada valeria:
a cor de recife no fim de tarde
ouvir cordel embalando a rede
dividir o pedaçinho rapadura,
comer café com bolo de rolo
beijar no Marco Zero
na quarta-feira de cinzas
molhar os pés na praia do Pina
tirar foto na rua da Aurora
caminhar pela ponte abraçadx
domingo de amor no cinema
~ o São Luiz é um romance ~..
eu devo a Recife essa mania desajeitada
de escrever breguice
de olhar no olho da rua, de ouvir música de amor